segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Mesmo estudando mais, pobre tem dificuldade para ser empregado, diz Ipea


Estão desempregados 34,5% deles com 11 ou mais anos de escolaridade.
Ao mesmo tempo, somente 9,4% dos analfabetos pobres não têm emprego.


O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou estudo nesta terça-feira (22) que mostra que 34,5% dos pobres, com mais de 11 anos de escolaridade, estão desempregados. Ao mesmo tempo, segundo o documento, somente 9,4% dos analfabetos pobres não possuem emprego. O estudo engloba as seis principais regiões metropolitanas do país, representando 25% da população brasileira.

Segundo o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, isso se deve a "barreiras do ponto de vista da inserção no mercado de trabalho", entre elas o preconceito. "Não estou querendo dizer, com isso, que não adiante estudar. É um absurdo dizer que não adianta o pobre estudar. Estou chamando a atenção para a dificuldade dos desempregados pobres em encontrar emprego", disse ele.

Na avaliação de Pochmann, o Brasil iniciou, nos últimos anos, um ciclo de expansão econômico com forte geração de empregos na base da pirâmide social, ou seja, para a população com renda mais baixa. "Para os postos de trabalho com salários mais elevados, que seriam objeto de ascensão de pessoas, sendo pobre, é relativamente fechado. Há um funil para ascenderem", afirmou.

O presidente do Ipea avaliou que, nas contratações feitas pelo setor privado, as seleções são subjetivas. "Não perguntam se a pessoa sabe inglês, mas sim quem visitou Nova Iorque ou Londres no último ano, ou onde a pessoa mora. É uma série de questões muito próxima do preconceito", disse.

Ele observou que a chamada "rede social" também influencia na hora da contratação. "As empresas têm uma lista de pessoas interessadas em trabalhar. Quem forma lista é quem já trabalha, que na maior parte das vezes, são os não pobres. Vai se criando essa rede de relações sociais", declarou.

Para o presidente do Ipea, seria "fundamental" que o país proporcionasse uma expansão do emprego para pessoas que têm maior escolaridade. "Estamos falando de uma política macro e industrial, e de reciclagem dos setores tradicionais no Brasil, que são indústria, comércio e serviços, para elevação de produtividade. Para que o Brasil seja mais competitivo em produtos não primários [que não sejam commodities, como grãos, por exemplo]", afirmou.

Segundo ele, são estes setores que abrem perspectiva de empregos com melhor remuneração. "Acreditamos que os investimentos que começam a voltar são os portadores dos empregos de amanhã com melhor qualidade. Mas há o risco de o Brasil ficar prisioneiro de uma economia de baixos salários, voltada para a exportação de commodities", disse Pochmann.

Alexandro Martello (G1 - 22/09/09 - 11h57 - Atualizado em 22/09/09 - 13h34)


Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1313361-5598,00-MESMO+ESTUDANDO+MAIS+POBRE+TEM+DIFICULDADE+PARA+SER+EMPREGADO+DIZ+IPEA.html

Acessado em: 16/11/2009